Visualize essa situação: um adolescente após horas ouvindo musica com fone de ouvido é interrogado sobre alguma questão, e mesmo após retirar o fone ele pergunta “Hã?” indicando que não ouviu o que lhe foi perguntado. Essa situação lhe parece familiar?
Visualize então, essa outra situação: você está sentado no ônibus, ao seu lado se encontra um adolescente com fone de ouvido, no entanto, você consegue ouvir perfeitamente a musica que ele está ouvindo, ele se levanta para sair do ônibus, e mesmo a distância você continua ouvindo perfeitamente a musica. Essa situação também lhe parece familiar?
E tais situações familiares revelam um problema atual de saúde pública. Uma recente pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA nos dá um dado alarmante – cresceu 31% nos últimos 15 anos, o numero de adolescentes (entre 12 e 19 anos) com perda de audição. E não é diferente no Brasil.
Os ambientes frequentados pelos jovens como danceterias, shows e festas de carnaval com trio elétrico são exemplos de ambientes com altos níveis de ruído prejudiciais ao sistema auditivo. Além destes, a popularização do uso de fones contribuiu para o aumento do problema de audição, pois, apesar de seu tamanho reduzido a potência é elevada, acima dos 100 decibéis.
Para se entender melhor como os sons afetam nossa audição, se é necessário entender a noção de decibéis e sua relação com o tempo de exposição. Por exemplo, qualquer barulho maior que 85 decibéis representa um risco à audição a partir de duas horas contínuas de exposição, se for 90 decibéis o risco ocorre com apenas uma hora.
Em silêncio total não há decibéis, mas apenas um sussurro já alcança a marca de 15 decibéis. Em uma conversão normal são 60 decibéis, já em um show de rock se calcula 110 decibéis! Parece muito, e é. O Grupo de Pesquisa em Zumbido da FMUSP criou esta tabela (abaixo) indicando o nível de ruído e o tempo máximo de exposição diária permitida para não haver danos à audição:
Nível de ruído |
Tempo máximo de exposição diária permitida |
85 dB |
8 horas |
90 dB |
4 horas |
95 dB |
2 horas |
100 dB |
1 hora |
105 dB |
30 minutos |
110 dB |
15 minutos |
(Fonte: Grupo de Pesquisa em Zumbido da FMUSP) |
Assim, se extrapolando essas quantidades aparecem os problemas, que vão desde perda auditiva até o aparecimento de zumbidos no ouvido. “O Zumbido é um ritmo acelerado que se manifesta na cabeça ou no ouvido para compensar a perda auditiva. A sensação é de chiado, som de apito ou cigarra. Pode ser contínuo ou intermitente”, avisa a otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez, do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Além dos problemas relacionados à audição, o zumbido pode provocar alterações emocionais, irritabilidade, insônia, falta de concentração, desestabilização do convívio social, agitação, taquicardia e ansiedade.
Outros problemas auditivos secundários que podem ocorrer são surgimento da labirintite, tontura, dores de cabeça em excesso (com concentração de dores nas têmporas).
O Grupo de Pesquisa em Zumbido do HC constata que quase 35% dos casos de problemas auditivos diagnosticados na unidade relacionam-se a ruído por exposição prolongada a sons potencialmente lesivos. A incidência aumenta gradativamente em crianças e jovens.
O perigo é real!
Há um projeto de lei na Câmara prevê proibir a venda de aparelhos sonoros com potência acima de 90 decibéis. Até lá, os médicos recomendam ouvir música sempre na metade do volume máximo, e se você já sente algum sintoma dos acima mencionados, se recomenda ouvir um terço abaixo do volume máximo.